RAIVA

de SÉRGIO TRÉFAUT | 2017, 85’, ficção | co-prod: Les Films d’Ici (França) e Refinaria Filmes (Brasil)


 

 

 

Alentejo, 1950. Nos campos desertos do Sul de Portugal, marcados pelo vento, pela miséria e pela fome, a violência explode de repente: vários assassinatos a sangue frio sucedem-se numa única noite. Porquê? Raiva é um conto negro sobre o abuso e a revolta.

FICHA TÉCNICA
A partir do romance Seara de Vento de Manuel da Fonseca.

Com Isabel Ruth, Leonor Silveira, Hugo Bentes (no papel de Palma), Kaio César, Rita Cabaço, Adriano Luz, Lia Gama, Diogo Dória, Dinis Gomes, Catarina Wallenstein, Marília Villaverde Cabral, José Pinto, Pedro Gabriel Marques, Chico Chapas, João Pedro Benard, Américo Silva, Herman José, Rogério Samora, Catarina Gonçalves
Participação especial: Sergi Lopez e Luís Miguel Cintra
Produtores: Sérgio Tréfaut (Portugal – Faux), Carolina Dias e José Barahona (Brasil – Refinaria Filmes), Serge Lalou e Claire Dornoy (França – Les Films d’Ici)
Argumento e realização: Sérgio Tréfaut
Co-argumentista: Fátima Ribeiro
Fotografia:
Acácio de Almeida
Som: Olivier Blanc, Bruno Tarrière
Montagem: Karen Harley.edt
Decoração: Miguel Mendes, Fabrice Ziegler
Guarda-roupa: Lidija Kolovrat, Patricia Dória
Maquilhagem: Emmanuelle Fèvre
Assistentes de realização: Ângela Sequeira, Márcio Laranjeira
Uma co-produção: Portugal - França - Brasil

Parceiros Financeiros
ICA - Instituto Português de Cinema e Audiovisual
RTP – Rádio Televisão de Portugal
Ancine – Agência Nacional de Cinema
Fundo Setorial - BRD
Fundo Ibermedia
CNC - Centre National du Cinéma et de l’Image animée
Fundo de coprodução Luso-Francês
Direcção Geral de Cultura – Alentejo



Raiva Cartaz

NOTA DO REALIZADOR

A tragédia de Beja

UMA NOTÍCIA, UM LIVRO, UM FILME
Em 1933, os jornais portugueses deram destaque a uma história violenta que ficou conhecida como «a tragédia de Beja». O episódio foi capa do Diário de Notícias e transformou-se num folhetim informativo, com direito a ilustração.
Tudo começou à hora do jantar, quando um camponês armado invadiu a casa de um grande proprietário alentejano e disparou sobre dois homens, matando-os imediatamente. Eram o dono da propriedade e o seu filho. De seguida, o homicida fugiu e trancou-se no casebre isolado onde vivia com a família. Este homem havia sido preso meses antes por furto de cereais. Agora era cercado no seu casebre pela guarda pesadamente armada. Mas não se rendeu. Foram chamados reforços. O próprio exército. O tiroteio foi tão intenso que mais de cinquenta anos depois havia balas nas paredes do casebre. Muitos soldados caíram e chefe da guarda foi morto. Existem várias versões sobre o final do «louco assassino». Mas a imprensa da época garante que para pasmo de todos o seu enterro foi muito concorrido. A história transformou-se num mito.
Vinte anos mais tarde, Manuel da Fonseca, escritor e jornalista de renome, investigou este episódio para criar o romance «Seara de Vento». Na versão de Manuel da Fonseca, o monstro criado pela imprensa durante a Tragédia de Beja transforma-se um herói solitário, vítima do abuso de poder e símbolo de resistência. O livro é um grito de indignação face à injustiça social no Alentejo, onde ser dono das grandes propriedades significava também ter mão no poder político, na guarda, na igreja e ser dono dos homens.
«Seara de Vento» tem algo de western, com tiroteios, paisagens desertas e um herói soturno. Mas também tem algo de épico. É um romance militante, marcado por um certo romantismo político. Viria logo a ser proibido e retirado das livrarias. A frase final do romance «um homem só não vale nada», atirada em forma de grito desesperado por uma velha que representa a própria terra, significa talvez «unidos podemos mudar o mundo». A esperança na revolta e no ideal socialista está no horizonte.
«Raiva», a versão cinematográfica deste livro nada tem de romântico, nem de naturalista. É seca, sem qualquer tentativa de comiseração, sem qualquer apelo ao sentimentalismo ou ao idealismo. Não se oferecem promessas políticas de um futuro melhor, mesmo que alguns justamente se unam e tentem lutar de forma clandestina. A injustiça é aqui retratada como um ciclo que se repete, e se repetirá sempre sob novas formas, mesmo que passemos toda a vida a lutar contra ela.
Escolhi adaptar um clássico do neo-realismo português, talvez o livro mais emblemático sobre o Alentejo e sobre a sua realidade ancestral, como um desafio. O filme, tal como o livro, fala do abismo entre pobres e ricos.

UM FILME FORA DE MODA
«Raiva» mostra mais uma vez como o poder dos ricos serve para assegurar a continuidade da diferença entre as classes sociais. Assumi fazer um filme fora de moda, a partir de um livro fora de moda. Fala apenas da impossibilidade de sair de um buraco: falta de dinheiro, falta de comida, falta de casa, falta de estudos. A impossibilidade de sair de um buraco existe hoje como nos anos 50 e nos anos 30. Não faz falta fazer paralelos.
Ao adaptar «Seara de Vento», tentei limpar os diálogos de todas as explicações, de toda a cartilha ideológica. Aqui, os mortos são apenas mortos, não são heróis nem símbolos. Creio que o espectador tem de pensar sem a ajuda de um padre, sem a tutoria de manuais políticos ou a facilidade dos violinos manipuladores para decidir o que sente. Ficou um filme silencioso, em que as caras e os corpos dizem mais do que os discursos.

PRETO E BRANCO
Gosto muito do velho cinema mudo. A escolha do preto e branco corresponde a uma proposta anti-naturalista, anti-televisiva. A minha experiência no documentário não me leva a fazer ficções realistas. Precisamente o contrário. O depuramento estético e o vazio de «Raiva» têm algo de teatral. Homenagem aos cenários de Cristina Reis na Cornucópia, que tanto admiro. Procurei criar um espaço atemporal, quase mitológico. O Alentejo aqui é também Sul de Itália, Grécia, Síria, Arménia, Espanha, América Latina. Foi este o eco dopúblico em festivais.

CRÍTICA

“RAIVA é uma experiência cinematográfica imersiva, profunda e percutante. A utilização do espaço e do tempo é excepcional, sobretudo no que diz respeito à paisagem portuguesa, quase desértica e devastada. O filme transporta-nos para o melhor do cinema western clássico através de uma estética única.”
José Luis Cienfuegos – Director do Festival Europeu de Sevilha

“Sérgio Tréfaut foi até ao melhor património literário neorrealista (o romance “Seara de Vento” de Manuel da Fonseca) para erguer uma adaptacão cinematográfica que nos anos 50/60 não foi possível. RAIVA é seco e depurado e oscila entre uma vontade realista e uma pulsão ritual. E que bem este RAIVA encerra o IndieLisboa 2018!”
Jorge Leitão Ramos – Expresso

“RAIVA surge-nos como uma parábola sobre a injustiça e o destino, sobre a vida e a morte, remetendo para imagens de Ingmar Bergman e de Carl Dreyer. Um cinema rigoroso, filmado na tradição dos grandes clássicos.”
Maria Evenko – Cinemaflood

“RAIVA, de Sérgio Tréfaut, transporta-nos para uma estética cinematográfica dos velhos tempos. Uma estética de mestre.”
Oleg Popov – Polit.ru



FESTIVAIS E PRÉMIOS

PRÉMIOS
GRANDE VENCEDOR DOS PRÉMIOS SOPHIA DA ACADEMIA PORTUGUESA DE CINEMA -
Melhor Filme, Melhor Atriz Principal, Melhor Ator Principal, Melhor Direção de Fotografia, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Ator Secundário
GLOBO DE OURO - Melhor Filme, Melhor Atriz Principal
PRÉMIO DA CRÍTICA - FESTIVAL DE MOSCOVO

PRÉMIO DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE CINECLUBES FESTIVAL DE MOSCOVO
PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI NO FESTIVAL DE SEVILHA



FESTIVAIS
INDIELISBOA FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA
, 2018 - Sessão de encerramento
FILMFEST MÜNCHEN, 2018 - Secção “International Independence”
SEVILLE EUROPEAN FILM FESTIVAL, 2018
NEW WAVES COMPETITION
MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO, 2018
PERSO - PERUGIA SOCIAL FILM FESTIVAL, 2018
WAHFF - WATERLOO HISTORICAL FILM FESTIVAL, 2018



FAUX
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